Trabalhos acadêmicos engessados

Desde a apresentação de meu TG (ou TCC para alguns) na faculdade fiquei imensamente interessado na escrita acadêmica e científica. O que muitas vezes é o terror para os alunos de uma graduação, para mim sempre foi uma atividade prazerosa e enobrecedora, no caso, a escrita. Quando digo, que aprecio a escrita, não quero dizer que tenho o sonho de fazer uma faculdade de letras ou algo relacionado a literatura. Também não sou um devorador de livros, pois o tempo não me permite ler o quanto eu gostaria (ou deveria). Muitas vezes substituo o livro convencional por um áudio-book. Fato é, que gosto de escrever independente da competência e conhecimento que tenho para tal.

No mundo da tecnologia, que é a minha área de formação e atuação, os profissionais muitas vezes pensam que a escrita é um detalhe ou simplesmente não deveria existir. Muitos estudantes de graduações e cursos de tecnologia adoram colocar a mão na massa antes mesmo de estruturar o trabalho que será desenvolvido. As chances de fracasso na parte escrita dos trabalhos de conclusão de curso são enormes, porém muitas vezes acabam sendo ofuscadas por um bom desenvolvimento de implementação do escopo proposto.

O objetivo deste texto é refletir onde está o problema, ou sendo mais prático, de quem é a culpa dos fracassos na escrita? Obviamente não irei deflagrar uma resposta única e contundente, mas irei utilizar do bom e velho “depende” para respondê-la.

Além de trabalhar como profissional na área de infraestrutura de redes de computadores, ou simplesmente TI, também sou docente em um curso técnico de tecnologia de uma instituição pública. Após algumas análises e também com alguns trabalhos de orientação de trabalhos pela internet, percebi que muitas vezes o problema está nas regras defasadas estipuladas pelas escolas e faculdades para a elaboração dos trabalhos, com a corroboração dos docentes, que endossam estas regras de forma rígida, categórica e engessada. 

Um exemplo?

Após a definição do tema do trabalho de graduação de uma aluna, onde a ajudei a definir e detalhar os objetivos específicos, a mesma recebeu uma lista com algumas perguntas como:

O problema é atual? O problema é relevante? Porquê?

Naturalmente a ajudei a responder as perguntas, até mesmo porquê foi bastante fácil tratando-se de um tema de tecnologia. A questão é, o quanto é importante e qual o ganho em fazer estes tipos de perguntas para serem respondidas em uma lista de exercício de forma separada do trabalho?

Obviamente, todo trabalho acadêmico que se preze precisa responder esta pergunta, porém de forma natural, durante o texto. As regras definidas ou impostas para elaboração de trabalhos, muitas vezes estão defasadas ou mesmo não tem sentido. É trabalho do docente avaliar quais são as regras que irão colaborar com o desenvolvimento do trabalho, ou continuaremos a ter alunos com calafrios somente de pensar em escrever um trabalho. Não é intuito deste texto incentivar o desinteresse em escrever, muito ao contrário, pois nada se faz com qualidade quando não se gosta.

Nós docentes, temos que encontrar maneiras de tornar atrativa a escrita acadêmica, pois muitas vezes temos excelentes escritores dentro de nossas salas de aula, mas os escondemos nos modelos padrões de elaboração de trabalhos acadêmicos.

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